domingo, 13 de dezembro de 2009

Dia 08


Para acompanhar melhor esta série recomendo a leitura do Prólogo.

Este foi meu dia de cão (ok, o segundo...). A confusão mental que tomou conta de mim no final do dia anterior perdurou pelo dia inteiro. Em todas as minhas meditações repetia-se o ciclo anapana-confusão mental-start again (ou seja, observava a respiração para tentar alcamar a mente e iniciar o exercício da técnica Vipassana mas começava a pensar em todo tipo de coisas estranhas e tinha que recomeçar tudo observando a respiração, voltar ao começo...).

Pequena pausa taoísta

Uma das coisas interessantes que pude observar com a experiência do retiro (e lá observar=experimentar até o último fio de cabelo) é justamente esta oscilação de humor que somos capazes de ter independentemente dos estímulos externos que temos. A maioria das pessoas é muito eficiente em culpar o exterior pelas desgraças que acontecem em suas vidas, pelo seu mau humor, por quase tudo. Mas é a nossa reação aos estímulos externos que pode levar às situações indesejáveis, ou mesmo agravar situações que originalmente não teriam um potencial tão grande assim. No centro há uma rotina, o que muda são os discursos e as instruções que vão te guiando a avançar na técnica. Em tese não deveríamos ter grande oscilações de humor, mas dentro desta rotina os dias podem ser/parecer inacreditavelmente diferentes. Devemos estar atentos à nossa percepção da realidade, dentro/fora são mundos distintos. Reagindo e julgando definimos a realidade, e definindo o que não pode ser definido, o que é infinito, nos afastamos dela.

Em diversos momentos, partes dos discursos e em observações pessoais (incluindo esta) relacionava tudo com o taoísmo (no fundo é tudo a mesma coisa, mas isso é outra história...). E uma dessas comparações que me marcou muito foi com discurso de smile-start again. Explico: sua mente está uma confusão e não consegue se concentrar pra meditar (nem mesmo simplesmente observar sua respiração)? Aceite a confusão, faz parte (da vida), não crie aversão a ela (aversão=negatividade), sorria, e comece de novo. O Tao também fala sobre sorrir e até rir das coisas ao invés de levá-las tão a sério.

"Se um sábio da mais alta categoria ouve falar do Tao,
enche-se de brios e segue-o com fervor.
Se um sábio medíocre ouve falar do Tao,
num momento, acredita, noutro, duvida.
Se um sábio inferior ouve falar do Tao,
ri às gargalhadas.
Se não ri alto,
então não se tratava ainda do verdadeiro Tao."
(TAO XLI)


Voltando à confusão mental...

Imagine que eu já estava soltando fogo pelas ventas, e pra completar, a bateria do meu relógio analógico acabou. O "problema"? Eu estava usando ele para controlar meu tempo nos intervalos e às vezes deitar por 5 minutos (não mais que isso, pra evitar a sonolência). Descansava entre as atividades de micro caminhadas no micro jardim e varrer o quarto ou varanda. Decidi então pedir meu celular (que eu havia entregue à organização no primeiro dia) à gerente. Ela me perguntou imediatamente para que eu queria o aparelho, me olhando como se eu fosse ligar pra alguém na primeira oportunidade. Acontece que, quando cheguei, no Dia 00, eles disseram que podíamos ficar com o celular para ver a hora se quiséssemos. Como eu havia levado o relógio analógico e particularmente detesto celular, falar no celular e em qualquer tipo de telefone, entreguei com alegria meu aparelhinho junto com os outros pertences que seriam devolvidos somente no último dia. E assim, apesar de terem dito que poderíamos portar o celular eles não me devolveram o meu quando pedi de volta. Comecei a gerar um sankhara de raiva muito poderoso, e depois novamente outro sankhara de raiva por estar com raiva de uma coisa tão idiota. Enfim, a confusão mental só ganhava mais combustível.

E a vaca foi...

Percebi que tudo era um movimento de autoboicote quando tive novamente vontade de fugir do centro. E a vontade era grande, fugir era tão fácil, tão mais fácil do que aturar aquilo (no caso, a minha mente doida). Me agarrei ao que pude, e a essa altura a única coisa que me restava era a teimosia. Sou extremamente, absurdamente, inacreditavelmente teimosa, e daquela vez teimei, teimei... em ficar! Sim, cada um faz o que pode... A partir dali, nas meditações, comecei a ver duas Designers (euzinhas), imaginem: elas lutavam fisicamente, uma fugindo e outra agarrando, impedindo a fuga. E olha que até então não costumava ter visões, nenhuma visão de nada ao fechar os olhos nos períodos. Isso reforçou minha paranóia surgida alguns dias atrás de que colocavam alucinógenos na comida.

Continue a acompanhar minha saga no Dia 09.

Nota/meta pessoal: acabar este diário antes de partir pro segundo curso, no próximo dia 30, um ano após este. Cruzem os dedinhos...

Foto:http://www.lycos.de/image.php?tab=multi&img_frame=1&query=vipassana+meditation+retreat&thumb_url=http://thm-a03.yimg.com/image/acdf7315b5fc5dc4ℑ_url=http://static.flickr.com/3124/3254855937_d8d9ab9b56.jpg&refer_url=http://www.flickr.com/photos/lleite/3254855937/&page2=3

2 comentários:

Anônimo disse...

Agora estou ficando com medo...
Dia 09 soon, please!

Empresária neuróticA [DeSiGnEr] disse...

Tem tanta coisa neste post que dá medo, fiquei sem saber, medo do que... :) Dia 9 a caminho, entrega expressa!!!

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