terça-feira, 11 de maio de 2010

Dia 09


Para acompanhar melhor esta série recomendo a leitura do Prólogo.

Com a série de acontecimentos surreais dos dias anteriores, confusões mentais, visões bizarras em meio a uma grande vontade de fugir comecei a não dar tanta importância às distrações, extendendo o conselho que a professora havia me dado em relação a sentir sensações curiosas pelo corpo a outras sensações e pensamentos e... surpresa! Era exatamente o que precisava para dar continuidade aos trabalhos, consegui desencanar geral, e assim ficava um pouco mais fácil trabalhar as instruções do dia. Às vezes queremos tanto fazer determinada coisa e sabemos que ela irá exigir muito esforço de nossa parte, mas nem sempre dar 100% de nós mesmos naquilo significará que iremos conseguir (nem mesmo fazer a nossa parte). Pode ser que estejamos nos apegando demais à própria coisa, que em si pode não ser o que importa mais no processo todo. O Tao diz: "Faça seu trabalho e afaste-se.".

Continuando...

Achei as instruções dos últimos dias um pouco corridas, fiquei com a sensação de que eram muitas instruções novas a cada pedíodo de meditação e que não havia tempo o suficiente para praticá-las antes de passar à próxima etapa. No geral tinha a sensação de que estava avançando, mas que também havia experimentado algumas coisas antes do que haviam pedido para praticarmos, ou seja, antecipado algumas etapas. Ficou tudo meio misturado, mas estava, em geral, back on track e, na maior parte do tempo, com uma grande sensação de aqui-agora. Consciência e equanimidade, os dois pilares da prática Vipassana. Ao menos a consciência estava aflorada!

Até mesmo porque...

No discurso da noite anterior é dito que somente temos mais um dia para trabalhar a técnica seriamente, pois no dia 10 termina o Nobre Silêncio, e podemos nos comunicar com os colegas, e a comunicação, após 9 dias sem falar, afeta a concentração da mente. Em alguns dias do curso eu ficava pensando numa interação que havia ocorrido com alguma colega por gestos, por necessidade ou acaso, como ocorria em ataques de insetos ou bichos nos quartos. Para se ter idéia em determinado dia minha mala virou um ninho de formigas, dois dias depois de eu ter eliminado o ninho ele apareceu na mala de uma das colegas do quarto. No primeiro evento a gerente me ajudou, no segundo eu estava presente e fiquei sem saber como ajudar com o mínimo de interação até que a gerente apareceu para socorrer. Por mais que aqueles pequenos acontecimentos não tivessem nada a ver com o que eu estava fazendo ali, meditando e aprendendo a técnica, eu ficava remoendo aquilo. Imagine o que não faria a interação pela fala. Nossa mente se atém a coisas estranhas e a coisas em que não queremos pensar.

Nestes últimos dias começava a bater uma saudade da vida lá fora, mas fica o conflito com a vontade de ficar e aproveitar ao máximo o pouco tempo que resta de curso. A saudade se misturava a uma grande expectativa de como seria a volta à rotina. Será que iria mudar muita coisa? Minha personalidade iria mudar muito? Iria ficar, enfim, muda para sempre??!?! Ao mesmo tempo ficava fazendo mil planos de como iria meditar umas 9842737 horas por dia e avançar na técnica (acho que todos os psicóticos-perfeccionistas-que-querem-ser-os-melhores-em-tudo-o-que-fazem como eu também planejavam algo do gênero...).

Eco o quê?

Além disso, nos últimos dias também começava a bater um certo desespero com os barulhos da natureza. Algumas pessoas têm uma idéia de que "ir para o meio do mato" é silencioso, quieto, uma volta às raízes, harmonia total. Bem, fique sem falar, sem música ou televisão ou qualquer outro barulho que não seja a natureza. Você irá descobrir que em um pequeno espaço (de mato) há muito mais grillos, sapos, pássaros e outros bichos não identificados - e por isso bem assustadores - do que você imagina. Em cada momento do dia há uma série de espécies que se manifestam, e quando um bando se acalma começa o outro. Os pássaros do entardecer finalmente se aquietaram? Não se empolgue muito, hora de entrar em cena oooss, ooossssss.... sapoooooss!!!!! É quase enlouquecedor, você fica querendo que haja um botãozinho para desligar o barulho, o botãozinho de "pause" da natureza, mas ela estará lá, sempre, e nossa, como ela é abundante!!! Enfim, um tempero extra no desafio de concentrar (ou desconcentrar?) a mente e praticar Vipassana.

Continue a acompanhar minha saga no Dia 10.

Fotos: moi

Um comentário:

Seba disse...

Oi,
Atualiza meu link do Aquele Blog pro Livre de Si?
Vou manter o seu no power-site.

brigadão, beijo e BeHappy!

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