terça-feira, 15 de setembro de 2009

Dia 05

Para acompanhar melhor esta série recomendo a leitura do Prólogo.

Depois de vários baques no dia anterior, levantar num pulo da cama já não foi tão fácil. Ao mesmo tempo começava a pensar e interiorizar algumas palavras do Goenka, especialmente o emblemático "Start again, start again with a calm and quiet mind.....". Também ficava mais difícil caminhar em direção à sala de meditação sabendo da confusão (mental) que me aguardava.

Ainda sobre a posição...

Eu sentava sempre com as pernas cruzadas à frente, e sentia todo tipo de incômodo, principalmente cãibras. Na verdade tinha vontade de sentar tipo em seiza (com almofada, por favor...) mas ficava preocupada em forçar meu joelho, enfim, estava com medo de me machucar mesmo. E ainda procurava não me mexer nos períodos de adhitthana, então ficava preocupada em ter que mudar de posição no meio da meditação, o que "anularia" todo o esforço para não me mexer desde o começo do período de 1 hora, e também pensava em como atrapalharia os colegas com o barulho da movimentação (apesar de algumas pessoas parecerem que não se importavam em fazer isso...).

Como a coisa de me mexer estava me "atrapalhando" bastante resolvi fazer experimentos de posições. Utilizei um horário em que era opcional ficar na sala e fui para o quarto, e neste dia nenhuma colega de quarto estava lá. Eu estava sozinha para fazer barulho e me movimentar o quanto fosse necessário. Enfim sentei em seiza e senti que era a posição em que ficava mais confortável. Não que deixasse de sentir alguma dor ou incômodo de vez em quando, mas sentia que estava fluindo, senti uma grande diferença, a posição facilitava o exercício (mental…). Quando acabou o período e fui me levantar, parecia que tinha perdido as pernas. Era muuuuita dor, nossa. Tinha certeza de que nunca mais iria dar um mae geri na vida pois havia destruído meus joelhos. Saí andando que nem um papel amassado, mas aos poucos sentia recuperar a normalidade. Achei que ia ficar com alguma dor, alguma sequela, mas em algum tempo os joelhos ficaram 100%. Então era isso, anicca, a impermanência nua e crua.

Adotei então a nova posição e procurava não me mexer em todos os períodos, mesmo não sendo addithana. E sentia que isto me fortalecia a cada pedíodo que eu terminava tendo mantido a posição. Quando você assume um compromisso com você mesmo e cumpre, isto aumenta a sua força interior, este desenvolvimento da força interior era uma das minhas grandes expectativas com o curso.

Com a pulga atrás da orelha

Mas uma coisa ainda me incomodava. Sempre que eu terminava o período de uma hora de meditação e levantava, as pernas estavam extermamente doloridas e eu fazia a maior cara feia, levantava toda troncha, ia andando devagarinho e algumas vezes quase caía de volta. Bem, isto não devia estar certo. Qual é a dignidade de uma criatura que fica uma hora imóvel, toda pomposa, e depois levanta que nem um trapo humano? Foi então que eu percebi que estava perdendo parte importante da meditação levantando daquele jeito e decidi levantar sem choro, ai, ui, reclamação ou arzinho de amoada. Pensei: vou levantar normalmente, andar normalmente. E foi o que fiz. A dor continuava lá, mas com a consciência de que ela passaria eu agora levantava e andava sorrindo (algmas vezes literalmente). Ê doidera...

Sei que me alonguei no assunto da posição, mas que fique claro: não é que ficar imóvel seja o objetivo da meditação, isto é apenas um aspecto da prática, uma mente firme tem que ter um corpo firme para poder trabalhar melhor o verdadeiro exercício que é mental. Procurava não me mexer pois mantendo a posição via o resultado logo em seguida, acho que não dá pra explicar, só praticando mesmo. Além disso não se deixar incomodar por uma dorzinha, coceira, pontadinhas ou o que for é parte do aprendizado, não num nível superficial ou de exibicionismo, mas num nível profundo, certamente compreendido melhor com a prática.

A tônica do dia

De qualquer forma comecei aos poucos a desencanar das história de me mexer em quaisquer circunstâncias durante a meditação quando comecei a estender a minha tranquilidade em relação à inquietude da mente à própria inquietude do corpo também. Praticamente começava a deixar rolar...Pra completar, observava que ao passar dos dias o povo ia pegando mais e mais almofadas até que a sala de meditação virasse um monte de ninhos um do lado do outro, tinha uns tão bizarros que parecia que a pessoa tinha que escalar pra entrar. É bom ter uma pespectiva além de nosso próprio umbigo de vez em quando.

Continue a acompanhar minha saga no Dia 06.

Foto mae geri: http://www.cao.pt/shotokai/images/mae_geri.jpg
Foto seiza: http://www.shadeofthebotree.com/Posture7_SeizaZafu-200.jpg
Foto sala de meditação: http://1.bp.blogspot.com/_GQmIqUpFHDQ/SbMDBSny6tI/AAAAAAAACNA/I-N05-sjtx0/s400/santi.jpg

2 comentários:

Barbara Hansen disse...

Vc falou das moscas pousando e que não podia se mexer? rsrs Isso sim que é força de vontade! Eca! rs

Empresária neuróticA [DeSiGnEr] disse...

Não falei de moscas, posso ter mencionado mosquitos. O resto vai da imaginação (ou experiência) de cada um :) Bem, você não precisa necessariamente ficar imóvel, pode espantar, o importante é tentar não gerar mais sofrimento...

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