
Chhhhhhhh...
O tempo começou a fechar em Dhamma Santi. Não é figura de linguagem não, deste dia pra frente o céu ficou com nuvens negras e começaram as chuvas. Depois, em alguns dias, ela era torrencial, temporal mesmo, e eu pensava que em algum lugar a coisa devia estar realmente feia. Quando cheguei no Rio, no final do curso, fiquei sabedno das notícias do jornal: a famosa enchente em Santa Catarina foi justamente neste período o_0

Mãos à obra!
Dando prosseguimento, as instruções de hoje nos diziam... Anapana! Sim, continuaríamos observando a respiração. Minha tranquilidade do dia anterior começava a virar uma certa inquietude. De repente, assim, do nada, percebi que me mexia muito, mas muito mesmo, e não entendia o que estava acontecendo. Será que desde o começo eu me mexia assim e não havia percebido? Pombas! Não podia ser assim, parecia que tinham jogado pó de mico em mim. Alguma coisa devia estar errada, e eu ficava tentando driblar esta irritação pois até me dar conta eu achava que estava bem quietinha...
Pra piorar a situação, por estar irritada eu abria os olhos de vez em quando (não bom...) e via... todo mundo imóvel ao redor, claro! Todos tão comportadinhos, como conseguiam? E pra completar também começava a me irritar a tradução em português das instruções no início dos períodos de meditação. As instruções no início de cada período de uma hora de meditação eram dadas através de um CD que era colocado pela professora. Ouvia-se primeiramente o original com a voz do Goenka em inglês e em seguida a tradução em português. Acontece que ouvia-se a voz de uma mulher com vozinha de Pequeno Príncipe (não sei explicar, a única coisa que me vem à mente...). Em alguns momentos chegava a ser engraçado. De qualquer forma eu me ligava sempre mais nas instruções em inglês, a entonação da tradução era pouco inspiradora e reparei também que pulava algumas partes (também outro motivo de irritação).
Como podem ver as distrações de uma pessoa que sai de casa jogando tudo pro alto para se enfurnar num retiro aonde existe toda uma estrutura para que só exista 1:você, 2:as instruções e 3:a sala de meditação, são muitas... E em meio a isso eu prosseguia, oscilando entre a extrema confiança e as mais profundas incertezas.
Enfim, há esperança?
Alternando-se com meus momentos "sem noção" algumas experiências que eu estava tendo me lembravam o que eu tinha de fato ido fazer ou buscar no retiro. Com a observação da respiração como ela é - não como você gostaria que fosse, sem interferências, como ela é, esteja como estiver - uma espécie de portinha vai se abrindo e você começa a enxergar também outras coisas como elas são. Ou pelo menos acha que enxerga, enfim, encurtanto a discussão, em frente, em frente...
Uma das primeiras "verdades" que experimentei com a prática da meditação no curso foi a sensação de infinito. E essa e outras sensações físicas de determinadas coisas que estamos tão acostumados a ler ou ouvir, apreendendo de forma teórica, é que mudam a relação que se tem com o mundo. São "verdades" incrivelmente simples, mas que tomam outra dimensão quando você as está experimentando fisicamente. Este momento te leva além de uma visão usual, cristalizada, enraizada, porém meio turva e um tanto superficial que se tem das coisas. É como se você estivesse à beira de uma piscina em alto inverno e olhasse pra água pensando "é fria, é molhada, vai congelar qualquer coisa que estiver aí dentro", e de repente você se atira nela. Nada do que você pensava pode descrever a sensação de, de fato, cair naquela piscina.
A primeira das "verdades" que experimentei? Foi: "Estou viva!". Um choque!
Continue a acompanhar minha saga no Dia 03.
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